quinta-feira, 31 de março de 2011

things

Padrão. Eis uma palavra que não sei exatamente definir. O que é padrão, afinal? Seja lá o que for, não sou eu.

Eu não sei dançar, e detesto fazer isso com alguém me olhando. Não escuto as músicas que estão na moda. Não visto o que está na moda. Não leio o que está na moda. Odeio televisão. Odeio telefone. Eu não gosto de muitas pessoas, não me importo com muitas pessoas. Visitas fora de hora ou inesperadas me incomodam, a menos que seja alguém que eu realmente ame muito. Odeio intromissões na minha vida. Detesto fingir simpatia. Sou implicante e perfeccionista. Corrijo quem fala errado. Não gosto da maioria dos meus parentes.

Nunca tive um milhão de amigos, nunca fui popular, nunca fui incrivelmente querida por todos. O colégio nunca foi meu lugar favorito, e sempre achei a maioria dos meus colegas de classe um bando de idiotas. Nunca fiz exatamente questão de me parecer com eles, ou de agir como eles, ou como qualquer outra pessoa da minha idade.

O silêncio não me incomoda. Ficar sozinha não me sufoca. Gente que não sabe calar a boca me irrita. Pessoas que não conhecem limites me irritam também. Gosto de viver minha vida no meu mundo, faço realmente questão de conversar apenas com algumas poucas pessoas, de ver somente algumas poucas pessoas, não faço questão de que todos os colegas da igreja se lembrem do meu aniversário, nem de que todos os colegas de classe saibam que estou namorando, ou que todos os tios e primos saibam que comprei um cachorro novo ou decidi me mudar pra Índia. Não gosto de ter contato com estranhos, não gosto de tocar quem não me é íntimo.

Não me importo com o que dizem as religiões, ou com o que prega a sociedade. Talvez eu tenha me importado antes, a um tempo atrás, ou talvez tenha sido obrigada a me importar. Talvez eu tenha agido como se me importasse por um longo tempo. Mas a verdade é que não me importo. Não me importo mesmo. Pensem o que quiserem, digam o que quiserem, ajam como quiserem. Desde que eu possa viver a minha vida como eu quiser, com quem eu quiser, pensando o que eu quiser, estamos bem assim. Eu não me meto com o mundo, e o mundo não se mete comigo.

Eu não estou realmente interessada no que acontece com as pessoas que conheço, com as pessoas com quem sou obrigada a conviver, ou com as pessoas que de algum modo me encontram por aí. Realmente não ligo se o cão do vizinho morreu. Ou se o filho do vizinho morreu. Pode parecer cruel, mas a verdade é que isso não vai mudar minha vida, não vai mudar a forma como eu penso, muito menos vai mudar algo no meu cotidiano. Pode mudar para o vizinho, mas não pra mim. A verdade é que só o que realmente importa pra mim é o que acontece com as pessoas que estão na minha vida porque eu faço questão de que elas estejam, porque eu me esforço pra que elas estejam, e não porque elas precisam estar porque moram na casa ao lado, ou porque frequentam a mesma sala de aula que eu.

Infelizmente pra mim, isso não é o que pensa a maioria, ou ainda, não é o que admite pensar a maioria. Infelizmente pra mim, eu não tenho qualidades tão boas a ponto de competir com a minha não-sociabilidade e com as minhas diferenças. Não sou incrivelmente linda, não sou incrivelmente inteligente. Nada de realmente significativo.

Infelizmente para mim, eu era infeliz. Quando se acha que metade do mundo é idiota, nós acabamos ficando um pouco solitários. Ficar sozinha não me incomoda, não como incomoda algumas pessoas, realmente. Eu não preciso de alguém conversando comigo o tempo todo para me sentir bem. Mas isso não significa que eu não me sentia solitária. Isso não significa que muitas vezes eu já não tenha procurado desesperada por algo que não sabia o que.

Feliz, e surpreendentemente para mim, eu achei o que procurava. Pela primeira vez na vida, sinto como se tivesse achado o meu lugar. Pela primeira vez na vida, posso ser exatamente quem eu sou e me sentir extremamente bem fazendo isso. Pela primeira vez na vida, achei alguém que tem o mesmo desprezo por uma infinidade de atitudes do ser humano, que também odeia uma série de coisas, que não só entende que eu não goste e não saiba dançar, mas gosta disso e também é assim, que gosta do meu cabelo ruivo que parte das pessoas acha que é estranho, e a outra parte acha que é sinal de rebeldia, que também pretende apenas viver a vida sem ter que dar satisfações e sem interferências alheias, e que não só me acha linda, mas me ama exatamente como eu sou.

Pela primeira vez na vida, posso dizer com certeza que estou feliz.